quarta-feira, 3 de setembro de 2008

Cattleya intermedia no auge de seu melhoramento genético Lou C. Menezes


A Cattleya intermedia Graham ex Hooker é uma espécie do grupo das cattleyas bifoliadas e encontrada ao longo do litoral brasileiro nos estados do Rio de Janeiro, São Paulo, Santa Catarina e Rio Grande do Sul, ou seja, sudeste e sul de nosso território.

Apesar de sua ampla divulgação geográfica, foi tão somente nas populações localizadas no Rio Grande do Sul que foram coletadas plantas invulgares. Obviamente a existência de plantas ditas poliplóides, de textura, armação e colorido excepcionais no sul do Brasil, tornou possível a seleção das mesmas em coleções particulares e sua conseqüente manipulação no processo de melhoramento genético da espécie.

A reconhecida e inegável dependência emocional dos orquidófilos sulistas (Santa Catarina e Rio Grande do Sul) pelas espécies Laelia purpurata e Cattleya intermédia contribui decisivamente para preservá-las artificialmente, o que abrandou significativamente o ataque às populações nativas através de coletas intensivas e indiscriminadas.

No caso específico da Cattleya intermedia, coube aos conhecidos orquidófilos Otto Guilherme Georg e Anselmo Mena Hoff o pontapé inicial no trato seletivo e reprodutivo da espécie. Nos últivos 25 anos e sempre durante o mês de outubro, época de floração da espécie, dedicaram esmerada atenção ao hábitat na região denominada de Taim (Banhado do Taim), no município de Rio Grande, no extremo sul do Estado, próximo à fronteira com o Uruguai.


Considerado berço esplêndido das intermédias notáveis, os banhados da região foram exaustivamente vasculhados num período de 7 – 10 dias no pico da floração pelos citados orquidófilos. O árduo trabalho rendeu-lhes a formação de exuberantes coleções propícias para o desenvolvimento genético da espécie.

Assim sendo, ao longo dos anos e até hoje, visitar os orquidários de Otto Guilherme Georg e Anselmo Hoff tornou-se uma necessidade imperiosa para todos aqueles desejosos de conhecer e adquirir plantas de Cattleya intermedia de qualidades iniguláveis. Dentre tantos visitantes ilustres, destaque para Haruzi Iwasita, conhecido orquidófilo de Cotia, Estado de São Paulo, o qual há muito havia alertado os dois orquidófilos citados, para a importância e disponibilidade do potencial genético da espécie no sul do Brasil. Como não podia deixar de acontecer, desenvolveu-se um trabalho de parceria com Haruzi Iwasita, figura de expressão no exterior, pela divulgação e comercialização de orquídeas brasileiras, no Japão.

Apesar do avançado estágio de melhoramento genético alcançado no trato da Cattleya intermedia, seu reconhecimento e o fascínio pela espécie parecem relegados ao ostracismo pela comunidade orquidófila mundial e até mesmo nacional, encontrando o interesse por esta cattleya bifoliada restrito às comunidades (círculos, associações e sociedades) de Santa Catarina e Rio Grande do Sul.

Por ocasião da XV Conferência Mundial de Orquídeas, no Rio em 1996 (XV WOC-RIO) causou mal estar e mesmo revolta o descaso com que os juízes desse evento trataram a Cattleya intermedia, culminando com a exclusão de uma planta de elevado padrão de qualidade e beleza pertencente ao Haruzi Iwasita, da seleção para julgamento e premiação.


Finalizando, acredito que a Cattleya intermedia esteja depreciada no contexto orquidófilo simplesmente porque não é divulgada através de publicações abrangentes, e mais, necessita da compilação de uma monografia, para que o seu status de espécie nobre brasileira seja finalmente e merecidamente alcançado. Cattleya intermedia marmorata Foto e cultivo: Rafaela Koetz


Nota: À guisa de informação a autora esclarece que a nomenclatura usada neste artigo é tipicamente orquidófila, havendo por conseguinte a necessidade de um estudo para definição das variedades da espécie. Como exemplo do proposto basta lembrar que a correta citação para as plantas de flores completamente brancas é Cattleya intermedia var. Parthenia Rchb.f. (Gard. Chron., Vol. IV, 3rd sers. P. 178, 1888) e não var. Alba como é normalmente usado.
Cattleya intermedia flâmea Augusto Foto e cultivo: Carla Berttoni
Lou C. Menezes, colaboradora permanente do Boletim CAOB, é botânica, engenheira florestal e pesquisadora do IBAMA. Escreveu diversos livros sobre orquídeas nativas do Brasil, sempre com grande sucesso.

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O presente artigo foi transcrito do BOLETIM CAOB nº 31 Jan//Fev/Mar 1998.

3 comentários:

Carla P. Bettoni disse...

Oi Vera, adorei o texto sobre as C. intermédias e levei o maior susto quando vi que a minha C. intermédia flâmea ‘Augusto’ estava ilustrando seu texto, quanta honra.
Abração
Carla

Adenium - Rosa do Deserto disse...

Carlinha, sua Cattleya intermedia flâmea `Augusto´não poderia ficar de fora. Ela é linda demais! O texto só ficou completo por conta de sua orquídea. Abração, Vera

Isabel disse...

Adoro as C.intermedias. Tenho uma planta que floriu com 2 flores em uma haste. Uma das flores saiu praticamente sem pintas e a outra flor abriu marmorata. Alguns amigos orquidófilos suspeitaram ser virótica. Será que não é uma planta resultante de cruzamento de uma lisa com outra marmorata?