Onde plantar uma orquídea? Esta pergunta sempre é feita por um orquidófilo ainda na fase inicial. No entanto, várias são as opções de plantio. O prof. René Rocha, em seu livro "ABC do Orquidófilo para uma, várias e muitas orquídeas", nos dá uma verdadeira aula.
"Substrato tem o significado biológico de "meio" ou "nutriente" que serve de base para o desenvolvimento de um organismo. Em ecologia, refere-se a sedimento, base, meio, ou ainda qualquer superfície que possa servir de suporte a organismos vivos.
Juntando-se essas definições, podemos dizer que é o material utilizado para fixar as orquídeas, suporte para o seu desenvolvimento.
Modernamente, em orquidicultura, um substrato não precisa, necessariamente, fornecer nutrientes. Tem acepção de: "O que serve de suporte a outra existência".
Até coisa serve, até vaso vazio. Já vi orquídea plantada e vegetando nos mais variados suportes. Já as vi penduradas no ar, por apenas umas poucas e finas raízes ligadas a um fino galho de árvore; nos mais inusitados suportes, como tijolos de barro, placas de cimento, pedaços de isopor, sabugo de milho e tantos mais. Também há muitos substratos (ou suportes) totalmente inertes já de uso bastante comum, como pedriscos, seixos rolados de rio, bolotas de argila expandida e sementes diversas, como caroços de pêssego, de açaí e coquinhos. Também se usam vasos cortados em pote de cascas de frutos, como do coco-da-bahia, da castanha-do-pará e da sapucaia.
É no substrato que haverá de se fixar, e para que qualquer orquídea se desenvolva bem, o essencial é que ela mantenha seu sitema radicular em perfeitas condições, já que é pelas raízes que a planta se fixará, mas, principalmente, se nutrirá. Ao escolher o substrato para o cultivo de nossas orquídeas, devemos levar em conta de que ele precisa, fundamental e necessariamente, possuir as propriedades:
- Permitir boa aeração e não ser agressivo às raízes;
- Ter capacidade de alguma retenção de umidade e boa drenagem;
- Sofrer decomposição lenta;
- Ter boa disponibilidade e preço baixo.
Meiracylim cultivado na peroba.
Em outras palavras: a) Reter a umidade durante algum tempo, sem ficar encharcado. b) Ser de fácil uso e de longa duração. c) Ter custo acessível e fácil de ser encontrado. d) Ter pH adequado, pois a eficácia da absorção do adubo depende dele. e) Não conter resíduos, como gorduras ou substâncias químicas, taninos ou resinas que queimem as raízes da orquídea.
Oncidium cebolleta fixado num toquinho e enraizado na coluna de cimento.
Os mais diversos materiais são usados e todos com algumas conveniências e incoveniências. No Brasil ainda podemos usar o xaxim desfibrado, embora com restrições para a extração e comercialização. A opção pelo substrato a ser usado vai depender, principalmente, da sua facilidade de obtenção na região, seu baixo preço, da necessidade de umidade de cada planta, do regime pluviométrico e do clima da região em que está o orquidário.
Algumas plantas necessitam de maior umidade no substrato, enquanto que outras não. Excetuando-se as higrófilas (amigas da água), todas as outras orquídeas não suportam umidade estagnada no substrato. Algumas são originárias de locais mais chuvosos e úmidos e de várzeas, como a
Cattleya violacea, a
loddigesii e o
Oncidium varicosum. Outras são de locais muito secos como o Oncidium jonesianum, do cerrado mineiro, onde passa até 9 meses sem chuva, e as Cattleya walkeriana e a nobilior, que são de regiões de clima com estação seca e prolongada seguido de período de chuvas abundantes.
Brassavola tuberculata fixada em placa de xaxim e enraizada na coluna de madeira.
Cada planta requer seu cuidado específico. Daí surge o primeiro problema a resolver, quanto à escolha do substrato e a opção pelo plantio em placas de xaxim, tocos de árvores, cascas, pedras. Em vasos de barro ou de plástico com xaxim desfibrado, com pó de xaxim, com terra vegetal... E assim por diante. As escolhas dependerão, é claro, de que tipo é a planta, se epífita ou terrestre. se de lugares úmidos ou secos. Além disso tudo, existem plantas muito específicas, que teimam em não se adaptar bem a vasos. Assim as
Cattleya walkeriana, a
nobilior, a
aclandiae e a
violacea e outras que melhor se desenvolvem fora de vasos, como a maioria dos Oncidium.
Orquídea cultivada em nó de pinho.
Existem no mercado substratos nutrientes e os não nutrientes, os chamados inertes. O que Prof. René nos diz sobre eles:
No primeiro caso, aqueles que fornecem nutrientes à planta. Mesmo assim é necessário complementar com adubos para se obter florações mais exuberantes e regulares. Lembre-se: orquídeas crescem até em substratos inertes, que nada lhes fornecem de nutrientes. Assim são os troncos serrados e caixetas de madeira ripada e os vasos contendo apenas pedra britada ou seixos rolados de rio. E o sucesso vai depender do que você faz depois de plantar; vem com o trato cultural, com a higiene, com as regas e adubações equilibradas, a boa iluminação e ventilação, sempre aliados ao substrato adequado.
Alguns deles exigem mais regas ou mais adubação; outros não retém quase nada de nutriente ou de umidade. Cada uma dessas limitações deverá ser contornada ou utilizada a favor de determinada planta. As escolhas mais adequadas dependerão de você, e deverão ser feitas em função da planta a ser cultivada. Para descomplicar, adianto que para a maioria das orquídeas (claro que existem casos particulares), optamos por usar um mix de vários substratos.
Agora vamos procurar falar um pouco de cada um dos substratos.
São substratos nutrientes:
O
xaxim - extraído do tronco da samambaiaias arborestes, sendo o mais usado no Brasil o da
Discksonia solowii. Fornece massa fibrosa de excelente qualidade e tem durabilidade de dois a três anos.
As
cascas de certas
madeiras - (em especial a de
Pinus elliottii var. elliottii) que, após quebradas em diversas granulometrias, são tratadas, para retirar o tanino e fornece nutrientes ao se decompor. Também são usadas as de corticeiras, jacarezinhos ou de outras árvores.
O
esfagno, também conhecido por musgo ou esfagno do Chile, é o nome de alguns musgos que vegetam em meios muito úmidos e ácidos. É especialmente indicado para plantas que gostam de umidade, como Miltonia, Odontonia, Sophronitis e na composição de substratos para Paphiopedilum e para seedllings.
Troncos e galhos de certas leguminosas de madeira branco-amarelada e muito mole, leve e porosa como as Erytrinas, conforme vão se decompondo, fornecem nutrientes às plantas neles hospedadas.
Sementes de açaí e semente de pêssego: Fervidas antes do uso para não brotarem, deterioram-se rapidamente, fornecendo nutrientes nesse processo. Trocar a cada ano. Incluo neste rol de substrato o caroço da cajá, seriguela e o coco babão.
Catasetum cultivado em vaso transparente e argila expandida como substrato.
Coxim - produzido com o tecido esponjoso (
parênquima) que fica entre as fibras da casca do coco e industrialmente tratada.
Casca de coco em pedaços - existem relatos de bons resultados do seu uso como vaso, tanto da casca dura e limpa (
quenga) quanto dela ainda envolvida pelas fibras da casca, cortada e furando drenos na parte inferior.
Fibra de bucha do coco - Produtos da fibra do coco-da-baia ou de pedaços picados da casca. No Nordeste é utilizada há anos. É necessário um certo cuidado para retirar o tanino, colocando de molho, trocando a água por 7 a 10 dias seguidos, até não sair mais a tinta. Feito isso, põe no sol para secar e ensacar.
Dendrobium Lindley cultivado em fibra de coco.
Fibra de piaçava e fibra de coco - Quem já usou gostou enquanto eram novas, mas com menos e 1 ano surgiram problemas nas raízes. A fibra de coco prensada com pouco tempo de uso se esfacelam.
Casca de arroz carbonizada - Usada pura ou em mistura. De uso tradicional pelos japoneses em outras plantas, agora também por alguns cultivadores profissionais de orquídeas. Segundo eles, não permite o desenvolvimento de fungos, evita o trânsito de formigas e retém muito bem os nutrientes, principalmente quando é utilizado o Bokashi, adubo orgânico pré-fermentado. Substrato rico em silicio, benéfico para orquídeas.
Casca de amendoim ou de macadâmia - tem decomposição muito rápida, liberando alguns nutrientes, porém formando massa pastosa e exigindo replantios.
Maravalhas de madeiras - Já presenciamos plantas de bom vigor e enraizamento neste tipo de substrato, porém não temos nenhuma experiência com ele e pensamos que deva ser usado em misturas, em locais protegidos de chuva e após tratados contra eventuais resinas ou tanino.
São substratos inertes:
- arlila espandida
- brita de construção
- cascalhinho
- seixo rolado de rio
- isopor picado em pedaços
- carvão vegetal
- cacos de telhas ou de tijolos
- vasos de barro vazios.
Estes são os substratos mais utilizados pelos Orquidófilos. Particularmente utilizo uma mistura de casca de pinus, carvão vegetal ou brita, fibra de coco e casca de arroz carbonizada para maioria das orquídeas, salvo as microorquídeas, que gostam um pouco mais de umidade, uso esfagno em maior proporção e aquelas que gostam de substrato seco, como as Cattleya nobilior e walkeriana, uso o toquinho de sabiá, madeira abundante no Nordeste, substitui a peroba.
No 3º FestOrquídea que a Associação Cearense de Orquidófilos realizará no Centro Dragão do Mar de Arte e Cultura, dias 13, 14 e 15 de novembro, mostrará diversos substratos para orquídeas e muitos poderão ser adquiridos nos stand´s de vendas.
Vera Coelho é Orquidófila e Vice Presidente da ACEO.