sábado, 30 de julho de 2011

Juliana Coelho, de colecionadora de latinhas a colecionadora de orquídeas

Um bate papo com Juliana Coelho Carvalho, Turismóloga por graduação, corretora de imóveis por profissão e Orquidófila por hobby.

1) Desde criança que você gosta de colecionar "coisas". O que é para você colecionar orquídeas?
Colecionei papéis de carta, fotos da Xuxa, latinhas de batata importada, latinhas de coca cola, fiz álbum de fugurinhas, selos e colecionar orquídeas é totalmente diferente porque você tem que ter dedicação por ser algo vivo e que necessita de cuidados, investimento financeiro e amor. Outro aspecto importante é que ter contato com as orquídeas dá ao cultivador muitas amizades e outra visão do mundo. É algo que se bem cuidado, pode ser passado para meus filhos e netos.

2) Em pouco tempo de Orquidofilia você já faz parte da trajetória histórica da ACEO.
A antiga sociedade orquidófila estava meio parada e um pequeno grupo com sede de aprendizado, resolveu colocar para frente. Devido a uma exigência do Código Civil a sociedade teve que mudar para associação, ficando então, Associação Cearense de Orquidófilos. Na época eu era a mais novinha e foi, juntamente com o Italo Gurgel, Vera Coelho, Arilo Veras e Fernando Lima, isto em 2006, que tivemos a primeira diretoria, da qual tomei parte e venho trabalhando para o seu crescimento. Passei por vários cargos, hoje sou responsável pela biblioteca e ajudo no que preciso.


3) Você sempre bateu no ponto da preservação, sempre foi contra a retirada de plantas da mata, o que poderia fazer para ajudar a combater este crime?
Sempre fui contra, acho inadmissível alguém retirar algo que temos de precioso em nossas matas. Infelizmente é um tema muito polêmico e que falta consciência das pessoas, que querem obter vantagens e lucro fácil. Se os órgãos públicos agissem com inteligência o Brasil teria jardins, parques botânicos repletos de orquídeas encantando os visitantes. Eu sempre penso neste aspecto, mas eu só faria um trabalho de repovoamento em locais protegidos por APA (Área de Proteção Ambiental) e APP (Área de Proteção Permanente). Também penso em trabalhos de sustentabilidade com populações que moram nas serras, onde são habitat´s das orquídeas cearenses.


4) Em relação ao comércio/produção de orquídeas ficou de lado depois que abraçou a profissão de corretora de imóveis?
Tive muitos sonhos, planos em ter orquidário comercial, mas a profissão de corretora de imóveis é para valer. Como é algo que eu tenho uma certa liberdade posso continuar investindo na compra de orquídea em orquidário comerciais, adubos, substratos, etiquetas, etc. para revender minha pequena produção de Dendrobium ocreatum, anosmum, crumenatum e Denphal. Ainda auxilio na produção de Adenium (Rosa do Deserto).

5) Para uma menina tímida, que não conseguia apresentar os trabalhos de colégio, como você conseguiu ministrar cursos, palestras sobre orquídeas, cada dia melhor?
Na minha época no Marista Cearense, eu não conseguia apresentar nenhum trabalho, me tremia muito, perdia a voz, isso até chegar à faculdade, onde fui tentando um pouco de auto controle e conseguindo me dar bem. Com as orquídeas aprendi a ter paciência, a conviver com diversas personalidades, gostos e o estudo e aprendizado que tive com minha mãe Vera Coelho foram me dando estímulo de repassar os conhecimentos. Aqui em casa, minha mãe sempre me ensinou a compartilhar, dar todas as informações necessárias para o cultivo de orquídeas e de Adenium. Sei que preciso aprender mais ainda e continuarei na luta para zelar o sobrenome que é tão conhecido na Orquidofilia, graças a pessoa super respeitada no meio Orquidófilo, que é minha mãe Vera Coelho.

domingo, 17 de julho de 2011

Homenagem a David Miller

Acabo de saber do falecimento do grande Orqudófilo de Friburgo-RJ, Sr. David Miller, autor de dois importantes livros de orquídeas "Serra dos Órgãos - sua história e sua orquídeas" e "Orquídeas do alto da Serra" , que tanto contribuiu para o levantamento das orquidaceas encontradas nas matas de Macaé de Cima, RJ e preservação das orquídeas na Mata Atlântica. Natural da Irlanda, radicou-se no Brasil na década de sessenta. Faleceu em 16 de julho de 2011.

"Você encontra, se realmente procura"

David Miller
Richard Warren
Era realmente uma visão fantástica. Uma visão de provocar um suspiro profundo e deixar qualquer um boca aberta; uma visão que provocava um efeito que já havíamos sentido várias vezes quando encontramos uma planta rara em total florescimento pela primeira vez. Há também uma outra sensação normalmente associada à primeira e que "macados velhos" como nós já aprenderam a suprimir, como fizemos. A vontade de coletar a planta.
Algo como um homem feliz com seu casamento que percebe o olhar interessado de uma jovem e maravilhosa mulher em um coquetel. Com dificuldade, você suprime o desejo de manter o contato. Nós, com dificuldade, conseguimos suprimir o desejo de coletar a planta. Dois dias antes, Girson, mateiro e guarda florestal de uma área de 1.000 hectares num vale contíguo à nossa floresta-jardim, havia passado em nossa casa com seu sofrido fusca branco e nos contou que as "dormany" já estavam florescendo. Naquele exato momento ao redor de uma cervejinha "ritual", combinamos de nos juntar a ele em sua solitária cabana na floresta por três dias, para estudar e fotogragar as "dormany" por um período de dois dias.
Cattleya dormaniana foi trazida à atenção dos entusiastas das orquídeas pela primeira vez na Inglaterra de 1879, tendo sido encontrada nas montanhas do Rio de Janeiro, Brasil, por um tal de Henry Blunt, que as enviou para a Inglaterra, onde vieram a florescer na coleção de um tal de Sr. Charles Dorman, de Sydenham, um subúrbio londrino. Daí o nome lhe foi dado. Hoehne, escrevendo nos anos 40, admitia nunca ter visto a planta mas ainda assim sugeria que era um híbrido natural, enquanto Watson, em 1903, nem mencionava a planta e Pabst a coloca como vinda da floresta tropical montanhosa do Estado do Rio de Janeiro. Withner dá seu local de origem como sendo "as montanhas cobertas de nuvens", informação que provavelmente conseguiu de Fowlie. Ainda nos lembramos quando, alguns anos atrás, o "encarregado" de um dos orquidários comerciais de Petrópolis nos perguntou se sabíamos a localização desta planta em Nova Friburgo, uma vez que havia rumores de que ela havia sido encontrada por lá (provavelmente Fowlie novamente, pois este adorava determinar a localização de espécies raras de orquídeas). Bem, nós não sabíamos (e se soubéssemos não a teríamos revelado para tal perguntador).

Cattleya dormaniana
Foto: Colibri Orquídeas

No entanto, a esta altura, nossas antenas estavam em alerta total e passamos os dois anos seguintes sutilmente questionando as pessoas da região sobre onde poderiam ser encontradas umas "parasitas marrom e púrpura".
Quando você está trabalhando em florestas originais não faz o menor sentido procurar por uma espécie rara em árvores vivas. Em primeiro lugar tais árvores tem 30 metros de altura ou mais. Em segundo lugar as árvores mais promissoras quase com toda certeza estarão cobertas por uma massa epifítica de outras plantas que poderia muito bem esconder uma mula por entre sua exuberância. Não, você tem que depender da sorte. Uma gigante anciã da floresta por exemplo, recém caída, pode nos trazer até 70 espécies de orquídeas e aquela que você procura pode estar entre elas. Ou um facho de luz do sol pode atingir uma colônia em flor no momento exato em que você está passando e, bingo! Você as achou! Foi assim que uma colônia soberba de Cattleya harrisoniana foi encontrada nesta região, há apenas um ano, 800 metros acima em altitude de onde se poderia esperar encontrá-las. Ou então você vai seguindo pela cumeeira entre as montanhas onde as árvores são geralmente baixas e retorcidas pelo vento e raramente tem mais do que 15 metros, o que torna fácil localizar e identificar as epífitas. Mas se o seu alvo não gosta do clima do topo da sera, então lá se vai sua sorte novamente.
Assim, cuidadosas indagações feitas às pessoas locais, particularmente aquelas engajadas no mercado clandestino de madeira, continuaram. Cortadores de madeira e caçadores tem muitos inimigos naturais e talvez os que eles mais temam sejam os conservacionistas, ecologistas, botânicos e sua laia. São ao contrário de alguns agentes governamentais, difíceis de subornar e normalmente evitados como a peste. Sendo assim, era preciso procurar por eles onde saciavam sua sede e criar uma artificial sociabilidade antes que as perguntas guardadas fossem cuidadosamente feitas. Foi num desses encontros em um boteco isolado de um destes vales que topamos com o filão. Um vale solitário foi mencionado e pensava-se que num pedaço específico da serra, em seu lado sul, havia a "parasita" em que estávamos interessados, mas, como eles agora nunca caçavam e nunca cortavam madeira (assim disseram), não podiam ter certeza.
Alguns meses depois fizemos nosso primeiro esforço para localizar o vale e então realizar uma busca sistemática em suas serras ao sul. O alvo estava a uma caminhada muito, muito longa, distante de nosso ponto inicial. Não havia trilha, mas, falando generalizadamente, matas primitivas não perturbadas são razoavelmente abertas ao nível do chão, assim seguíamos bem, mesmo que pelo primeiro quilômetro a subida fosse bem forte até alcançarmos a base do vale a 650 metros. Agora tínhamos que subir mais uma serra para atingir o vale que queríamos. Estava começando a ficar óbvio que isolamento era o que tinha protegido aquelas orquídeas, se elas realmente ocorressem por lá. Seguimos através da mata, para frente e para cima ao redor de uma montanha em forma de pão de açúcar até alcançar uma abertura que nos mostrou o vale abaixo. Uma esplêndida vista da base do vale de talvez uns 500 hectares, quase rodeada de elevados picos e a região coberta por um magnífico carpete da original floresta primitiva, intocada. Por acaso havíamos chegado no seu lado sul, mas então começou a chover como só acontece nas encostas do lado atlântico da área costeira. Havíamos passado seis horas subindo e descendo na mata. Era meio dia e a escuridão cai às seis horas nessas latitudes. Assim, com pesar, voltamos pelo mesmo caminho em que viemos e nos dirigimos para casa, aonde chegamos ao cair da noite, meio afogados pela chuva incessante e meio mortos pelas doze horas seguidas de ininterrupta caminhada pela floresta desconhecida. Mas ao menos havíamos encontrado o vale e seu lado sul. Dois anos se passaram antes que fizéssemos nossa próxima excursão séria. Um de nós, o intrépido (e mais jovem) Warren, havia feito duas outras tentativas na companhia de igualmente intrépidos botânicos ingleses e do incansável Girson e localizado as plantas, porém antes ou depois de floração.
C. dormaniana
Foto: perfildaplanta.blogspot.com
No entanto, neste ano entávamos determinados a chegar lá no auge de sua floração, e com tempo o bastante para estudá-las. Isto envolveria acampar no local, portanto separamos três dias para o projeto. Quando o incansável Girson apareceu em seu maltratado Volkswagen var. fusca álbum, estávamos mais que prontos para zarpar.
O outono havia chegado cedo naquele ano, uma enorme vantagem em termos de temperatura quando você está escalando montanhas com uma mochila pesada. Além disso, as chuvas pesadas de verão já haviam passado, o que significa que o pior que podíamos esperar seria chuvas leves e intermitentes ou umidade gotejante semi permanente, estando-se no meio de nuvens. partimos às 7:30h da manhã, sem muita pressa, já que o objetivo do dia era a confortável cabana do Girson, a dois terços do caminho de nosso objetivo final, onde passaríamos uma noite. Desta vez pegamos uma rota diferente. Uma trilha de mulas cortadas através e por cima de dois pedaços de montanha. Mais longo porém mais parecido com andar no chão e muito melhor que se embrenhar pela floresta. Chegamos à cabana antes das 11 horas.
Depois de almoçar fomos explorar a base desses vales, deixando nosso objetivo real para o dia seguinte. Que extraordinária coleção de orquídeas e outras plantas encontramos: quatro espécies não reconhecidas de Pleurothallis spp; duas Octomeria novas para nós, grandes quantidades de Cirrhea dependens e Xylophillum variegatum, uma nova Dichea, uma nova Maxillaria, um novo Epidendrum, duas espécies de Vanilla, duas espécies de Cryptoporantus, grupos maciços de Laelia crispa, Oncidium cruciatum, Oncidium ramosum e várias plantas de Dipteranthus grandiflorus, tão apreciadas pelos japoneses e, o mais excitante de tudo, uma enorme colônia de Warrea warreana, absolutamente confinada a uma grande subfloresta de bambu gigante (Taquaruçu no vernáculo local; provavemente Chusquea gaudichauddi Kunth). Este é certamente uma caso para estudo sobre simbiose, uma vez que a única outra colônia de Warrea que encontramos em Macaé de Cima se encontrava em situação similar. Pabst e Hoehne a atribuem a áreas mais secas do interior. Aqui ela se encontra crescendo em grandes quantidades, sob mais de 3.000 mm de chuvas anuais em local virtualmente pantanoso. Havia também as bromélias. Além dos exemplos gigantes de Alcantera imperialis, Vriesea hieroglyphica, Achmea fasciata, e uma grande canistrum sp, todas ao redor de uma queda d´água de 60 metros, as árvores adjacentes estavam cobertas por muitas espécies de Vriesea, Quesnelia, Tillandsia, Bilbergia, Neoregelia, Nidularium e outras que nós, orquidófilos, não reconhecemos. Muitos Jardins Botânicos deste mundo não mostram nem de longe a riqueza em vida epífitica daqueles dois ou três hectares de subvale.
Cirrhea dependens

Às 7:00h da manhã do dia seguinte partimos para Shang-ri-la, o vale perdido, e chegamos lá antes das 10:00 horas.



Warrea warreana

Girson havia aberto uma pseudo  picada ao longo da base da serra no lado sul, a uns 50 m do seu topo. Na metade se seu comprimento de 200m escalamos a face da rocha. Toda a parede de granito estava coberta por uma espécie gigante de Vrisea intercalada de Aechmea sp. Com efeito não fosse por essa floresta de bromeliáceas a face da rocha apenas seria escalável com equipamentos para alpinismo. Havíamos percorrido com dificuldade 10 m ao longo do meio dessa face da rocha, quando nos deparamos com a primeira e melhor colônia de Cattleya dormaniana, umas dezoito flores totalmente abertas, três hastes mostrando  flores duplas. Que fantástica visão, pela qual havíamos esperado tantos anos. Uma bela orquídea considerada extinta na natureza bem na frente de nossos olhos, muito saudável, numa esplêndida exibição. Passamos a vasculhar ao redor de nossos pés percorrendo os últimos metros com mãos e joelhos e a procurar locais melhores e ângulos menos precários para fotografar. A luz era fraca uma vez que estávamos em meio a nuvens e nossa fotógrafa odeia usar flash. Várias fotos foram feitas. Rezamos para que todas ficassem boas mas, como garantia, levamos quatro flores para fotografar calcamente ao voltar à cabana. Enquanto o processo de fotografar acontecia, a colônia era rodeada por beija flores, da espécie Phaethornis eurynome. Praticamente todas as flores haviam sido polinizadas, com ovários já inchando. Ainda assim as flores se encontravam em boas condições, um fenômeno que já vimos ocorrer com Sophronitis coccinea e que atribuímos ao fato de que colônias isoladas continuam a atrair o polinizador para as flores ainda não polinizadas através de uma constante massa colorida de longa florada. O beija flor antes mencionado certamente pliniza Laelia crispa, que existe em abundância na floresta ao redor, e também o vimos visitando Sophronitis cocinea.
Tropeçamos e rastejamos pelos 150 m restantes desse jardim de bromélias, em face de rocha quase vertical, encontrando quatro outras colônias de Cattleya dormaniana pelo caminho. Todas estavam floridas e quase todas as flores estavam polinizadas. Curioso que tais plantas só fossem vistas na base de uma espécie de arbusto da família das clusiaceae, provavelmente Clusia organensis, em troncos horizontais crescendo para fora do morro quase vertical, a não mais do que dois metros da base do tronco, na sombra com nenhuma luz direta do sol e sobre esse jardim intenso de grandes bromélias, cuja massa, com a grande acumulação de água no inteior de cada "roseta", cria um ambiente constatemente úmico, mesmo nos dias secos. O posicionamento nos troncos horizontais das árvores permite que as plantas se beneficiem diretamente dos ventos ascendentes carregados de neblinas, que prevalecem na região, bem como de qualquer brisa disponível. Curiosamente, não encontramos traços das quatro políneas estéreis e atrofiadas que aparentemente esta espécie apresenta, mas apenas aquelas quatro normais, parecendo muito saudáveis.
Um dia magnífico. Evitamos a leve tentação de coletar qualquer planta e então, virtuosos, marchamos de volta à cabana do Girson, comemos vários quilos de macarrão instantâneo (parece que da marca ki-nojo...) e domimos o sono dos justos no duro chão de madeira. E sonhamos com a próxiam expedição, para encontrar a Laelia pumila, pois corre o rumor de que ela vive em outras montanhas apenas um pouquinho além de "Shang-ri-la".
Artigo publicado no Boletim CAOB Nº 29 - jul/ago/setembro 1997.

quarta-feira, 13 de julho de 2011

Um passeio à Pedra do Leme

Um passeio à Pedra do Leme (09/07/2011)
Carlos G. Keller


Domingo passado resolvi fazer um passeio de bicicleta pela ciclovia da orla carioca, seguindo até o seu final, que fica na Pedra do Leme. Leme é o canto esquerdo da praia de Copacabana (olhando-se para o mar). Ali, os últimos quarteirões de Copacabana diferem do burburinho do resto da praia e formam um bairro provinciano e bucólico chamado de Leme. O meu objetivo era ver e fotografar as touceiras de Brassavola tuberculata que existem no local, assim como dar uma apreciada no paisagismo natural daquele rústico habitat. A Pedra do Leme é na verdade, uma montanha de pedra encimada por uma luxuriante floresta tropical e essa pedra, ao chegar à praia de Copacabana, despenca num violento paredão vertical de rocha nua, formando um costão onde as ondas do mar passam ao largo, para quebrarem na areia da praia. Nas ressacas vindas do sul, no entanto, as ondas arrebentam contra a pedra sem cessar, chegando a carregar turistas desavisados, que circulam tirando fotos pela passarela ao longo do paredão. Muitos pescadores também já morreram afogados naquele local. Acima da passarela ficam as bromélias e as orquídeas. É impressionante de se ver como nesse local inóspito, plantas lindíssimas conseguem sobreviver e se agarrar, sem que os fortes ventos e as chuvas torrenciais as desloquem de onde estão. Acima, na primeira foto, vocês podem ver a Pedra do Leme por inteiro, com o Forte do Leme no topo. Na segunda foto, vê-se à esquerda, a leve subida de acesso ao patamar de onde sai a passarela que circunda a pedra. Mais abaixo, na foto seguinte, podemos ver a deslumbrante paisagem da praia de Copacabana, quando vista da passarela, tendo-se a pedra às costas.







Ao subir a pequena rampa da segunda foto, passa-se por um pátio onde há um quiosque de venda de comida e bebida e chega-se ao início da passarela propriamente dita. É um estreito caminho ao longo da parede de pedra, o qual a contorna por um bom percurso até se acabar em nada, numa curva que já atinge o mar aberto.

No ponto exato da foto acima, se ali você estiver e olhar para o alto, verá lindas touceiras de Brassavola tuberculata, além de bromélias, cactos, tillandsias e antúrios, concentrados nas depressões da rocha.

As Brassavola tuberculata são as touceiras cinzento-rosadas que se vê acima, com as suas folhas teretes parecidas com rabos de rato. Elas provavelmente existem em condições mais favoráveis no alto da pedra e as sementes dessas plantas do alto, descem por gravidade ao longo do paredão e algumas delas acabam germinando em pequenas frestas na pedra, cheias de material orgânico acumulado.
Assim que uma muda pioneira se estabelece na fresta, as suas raízes vão formando uma rede por cima da pedra ao seu redor e essa rede de raízes vai agarrando o máximo possível de matéria orgânica que desce do alto da pedra, tentando fixá-la entre os seus espaços vazios.
É possível ver essas raízes brancas bem nitidamente na foto acima. À medida que nessas raízes formam-se depósitos de material orgânico, uma nova área de substrato colonizável fica à disposição da planta, propiciando o alastramento da touceira. Esta é uma boa dica de cultivo de Brassavola. Como vocês podem ver, as orquídeas desse gênero gostam de um ambiente muito claro, o que deixa as folhas com a cor acinzentada com nuances rosados, ao invés do costumeiro verde que conhecemos. Não se engane, no entanto, pensando que as Brassavola não gostam de água.

Brassavola tuberculata
 O local em questão é de umidade constante, tanto a vinda do mar, quanto a trazida pelos ventos vindos do sul. Do alto, da floresta rica e luxuriante acima, após os dias de chuva e mesmo a pleno sol, desce uma espécie de chorume amarelado, cor de chá, que é na verdade água cheia de matéria orgânica em decomposição, rica em nitrogênio e outros nutrientes, água essa que ao passar pelas plantas as hidrata, aduba e nutre. Dada a inclinação de quase 90 graus em que as touceiras estão, essa água por ali passa, mas não fica, de maneira que as raízes "sugam" a água que passa por elas e logo ficam novamente secas.
O cultivo da Brassavola deve ser assim, nada de vaso com substrato dentro, nada de placa de material que retém umidade. O melhor mesmo para ela é a placa de peroba ou um galho de madeira nobre bem áspero, de preferência fixando-se a planta na vertical. Abaixo vocês poderão ver uma Brassavola nodosa 'Susan Fuchs' FCC/AOS, cultivada dessa maneira. As folhas estão verdes e não cinza-rosadas, pois eu talvez não tenha no orquidário a luz necessária. Não sei também se a Brassavola nodosa fica com as folhas da mesma cor que a Brassavola tuberculata quando exposta ao sol intenso. Seja como for, acho que aquelas Brassavola tuberculata que vi na Pedra do Leme estão numa situação limite e embora isso propicie ocasionalmente uma boa floração, dar à sua planta condições mais amenas e uma vida mais mansa não fará mal algum. As minhas Brassavola são cultivadas debaixo de um sombrite de 50% e sem plástico de cobertura por cima. Dessa maneira, elas recebem o sereno da noite e a água da chuva. Por estarem afixadas em madeiras verticais, essa água que as atinge logo é escorrida, não causando a estagnação que gera o aparecimento de fungos nas folhas ou podridão nas raízes. Em regiões arejadas, as plantas de Brassavola poderão ficar ao ar livre, a sol pleno, desde que recebendo regas freqüentes. Não se esqueça de adubá-las semanalmente com um adubo foliar 20-20-20 (nitrogênio-fósforopotássio) e na época do verão, época de crescimento, mude para um adubo de composição rica em nitrogênio, como por exemplo, um 30-10-10 ou algum adubo orgânico. Na natureza, o verão corresponde à época que mais chove e portanto, desce mais chorume nitrogenado do alto das pedras. Existem compostos com micronutrientes que são vendidos separadamente e são muito benéficos se adicionados periodicamente à adubação. Infelizmente na minha visita ao local, poucas foram as flores que pude fotografar e mesmo assim, as duas que estavam acessíveis, já estavam murchando. A identificação da espécie como sendo Brassavola tuberculata, no entanto, foi confirmada através de excicatas de flores retiradas do local por botânicos, as quais estão depositadas no herbário do Jardim Botânico do Rio de Janeiro. 
Tillandsia araujei

Você orquidófilo, não deve ficar obcecado pelas orquídeas à ponto de não ver as demais plantas ao seu redor. Naquele local há um verdadeiro jardim do Éden, uma enorme fonte de inspiração para qualquer paisagista. O maior paisagista que conheci, Roberto Burle Marx, residiu desde os 7 anos de idade e toda a sua juventude, a cerca de 200 metros dessa pedra, na mesma Rua Araújo Gondim em que residia o urbanista Lúcio Costa. Tenho certeza que Burle Marx colocou nos seus jardins muito do que ele viu na infância na Pedra do Leme. Isso é evidente nas suas obras. Foi Lúcio Costa quem descobriu Burle Marx, ao passar a pé em frente ao jardim que o então adolescente tinha na sua casa. Impressionado com a inovadora técnica do moço, o renomado urbanista o convidou para um primeiro trabalho. O resto é história... A Rua Araújo Gondim ficava bem no sopé do morro da Babilônia, que fica nos fundos do bairro do Leme e teve o seu nome mudado para Rua General Ribeiro da Costa. Hoje essa rua está quase toda engolida pela favela que infelizmente existe no local.
Mostro abaixo algumas fotos dos canteiros naturais existentes na pedra. Para que vocês tenham uma idéia da beleza da natureza, mostro desde as aglomerações de Tillandisa araujei, pequenas jóias incrustadas na rocha, até as enormes Alcantharea glaziouana, bromélia nomeada em homenagem ao paisagista francês do século XIX, amigo de D. Pedro II, Auguste Glaziou (1833-1906). São dele, por exemplo, os jardins do Campo de Santana, Quinta da Boa Vista, Passeio Público e Palácio do Catete, todos existentes até hoje na
cidade do Rio de Janeiro.
Alcantharea glaziouana


Uma planta também bastante interessante que pode ser vista no local é o magnífico Antúrio Imperial, Anthurium coriaceum. Enquanto que a maioria dos antúrios gosta de sombra, local fresco, solo fofo e um pouco de umidade nas raízes, este é daqueles que pode ficar exposto à situações de muita luz e arejamento. Uma meia sombra, no entanto, deixa as suas folhas mais largas, mais planas e sem máculas. Não se esqueça de cultivá-lo em um vaso bem apertado, pequeno para o tamanho da planta e com ótima drenagem.




Anthurium coriaceum
  Vocês podem ver um agrupamento de plantas com uma touceira de Anthurium coriaceum no centro, rodeada por Brassavola tuberculata, a qual está entremeada de Tillandsia araujei. Ao fundo, alguns cactos compõe a paisagem, num paisagismo natural que rivaliza com os melhores jardins de pedra jamais feitos.




Eu nos meus jardins, muito me inspiro no que vejo na natureza. Vocês podem ver abaixo, uma pedra compondo a lateral de uma piscina, na qual eu plantei orquídeas, samambaias e bromélias, à maneira do que pode ser visto nas fotos da Pedra do Leme. É um jardim rupícola naturalista. Atrás da casa, onde existe uma grande área de pedra, a mesma técnica paisagística foi empregada, como pode ser visto abaixo:

Poucos são os meus clientes, no entanto, que possuem um gosto apurado o suficiente, para apreciar um jardim tão natural quanto os que eu gosto de fazer. Isso me obriga na maioria das vezes, a recorrer à banalidade para satisfazer a demanda do mercado, plantando florzinhas pelo chão e fazendo contornos com folhas muito coloridas. Só não cheguei ainda ao ponto, de pintar as pedras de branco ou enfeitar os canteiros com esculturas dos 7 anões.

À medida que se sobe na montanha de pedra, a inclinação se suaviza, pois ela tem um chanfrado no alto, de maneira que os depósitos de matéria orgânica naquela área se fixam com mais facilidade e portanto, têm uma espessura bem maior do que nos paredões. Isso propicia uma maior diversidade de plantas ali enraizadas e podemos ver até a presença de árvores e palmeiras.


Acima se pode ver o berço das plantas que estão no paredão vertical.

Ao descermos a montanha, a inclinação se acentua gradativamente e quando se chega a 45 graus aproximadamente, a vegetação densa e alta vai desaparecendo aos poucos e alguns arbustos solitários começam a surgir, como por exemplo, uma espécie de quaresmeira, com folhas peludas, encimadas por lindas flores de um roxo-violeta muito forte (Tibouchina heteromalla). Ela pode ser vista nas fotos abaixo. Estas são plantas convencionais, necessitando de um cultivo bem mais simples do que as que vivem nos paredões a 80 graus de inclinação, sendo essas outras, muito mais especializadas.
Tibouchina heteromalla

O entorno dos arbustos nesse setor da rocha é muito bonito, pois a copa desses arbustos costuma ser bem baixa e acaba por tocar na pedra lisa, escondendo a canela da planta, a qual, assim como as patas dos pavões, não é coisa lá muito agradável de se ver. Isso pode ser visto na segunda foto acima. A pedra nua por si só, um lindo granito cor de mostarda entremeado de veios negros, bastaria para encher os nossos olhos de admiração.


Bem, o nosso passeio vai chegando ao fim e agora é hora de sair do sonho idílico de uma floresta de Rugendas e voltar à civilização. No caso da Pedra do Leme, isso é fácil, basta dar meia volta com o corpo. Oposta ao granito acima fotografado jaz fervilhante a Copacabana que todos conhecemos. Estranhamente, o barulho do mar encobre o barulho da cidade e isso propicia o distanciamento necessário, para que possamos nos concentrar nas belezas daquele santuário agreste, esquecendo-nos de onde realmente estamos.

Vou voltando à pé ao local onde deixei a bicicleta e a grossa corrente com cadeado que a prende a um poste me desperta para a cruel realidade da cidade grande, mas mesmo assim uma cidade linda. Desço de bicicleta a rampa após o pátio com o quiosque e chego até a ciclovia, por onde sigo em direção à minha casa.
À direita, dou uma última olhada na rica floresta que cobre os fundos do Leme e vejo lá atrás, em segundo plano, o topo do Pão de Açúcar encimado pela casinha onde se encaixa o bondinho do teleférico.
Um pouco mais à direita, já quase às minhas costas, pude ver uma estranha construção pendurada sabe-se lá como na rocha vertical. Tinha a aparência de ser coisa antiga. Atrás dela existe uma espécie de escadaria íngreme que leva à um terraço aberto, o qual serve de entrada para uma gruta escavada na rocha.
Esse é um reservatório de água escavado dentro da montanha e que serve as duas partes do Forte Duque de Caxias (ex Forte do Leme), a que está ao nível da praia e a outra, lá no alto do morro, em cima da Pedra do Leme. Um segundo reservatório enorme que poucos conhecem, está escavado dentro da Pedra do Cantagalo, na Lagoa e a sua entrada é pela Rua Gastão Bahiana. Como imaginar a existência de uma coisa dessas? Um enorme buraco cheio de água dentro da rocha? Deve ser muito interessante de se ver. O Forte Duque de Caxias que existe no topo da Pedra do Leme, foi construído em 1779 para proteger a entrada sul da Baía de Guanabara. Em 1922 ele recebeu 2 tiros de canhão, dados pelos revoltosos do Forte de Copacabana, na outra ponta da praia. Um dos tiros atingiu o refeitório matando 4 soldados. Hoje, uma coisa dessas é digna de um desenho dos Simpsons. Inimaginável...

Começa a cair a noite, as luzes se acendem para iluminar a praia e enquanto pedalo pela ciclovia, posso ver o estranho reflexo da luz fria nas folhas dos coqueiros. As famosas ondas em preto e branco desenhadas na calçada de pedra portuguesa, marca registrada do Rio de Janeiro, me seguem o tempo todo. Os postes das redes de vôlei são uma visão fantasmagórica na praia agora amarela.
Bateu a fome e o jeito é dar uma parada em algum dos recentemente inaugurados quiosques do calçadão, onde aproveito para dar uma xeretada e ver como ficou a remodelação. No início, achei que esses quiosques, agora maiores, escondiam a visão da praia, mas depois, uma vez que são vazados e por estarem bem distantes entre si, mostraram que não chegam a comprometer a amplidão da vista.
Pastel de camarão e água de côco? Aceito. Uma delícia. Agora já se pode sentar num local limpo, uma espécie de deck sobre a areia, coberto por grandes guarda-sóis brancos, para saborear a comida vendo de perto as ondas do mar e as pessoas se divertindo na praia.
Para completar a noite, um grupo de músicos de jazz muito bons mesmo, deram uma cancha grátis a quem ali estivesse. Dava a vontade de ir ficando e ficando... Mas eu tinha que voltar para casa.
Novamente na ciclovia em direção ao Arpoador, não resisto e paro para ver o que vendiam alguns camelôs bolivianos que estavam com grandes panos estendidos na calçada. Expunham ali todo tipo de produtos chineses. Os conhecidos "gadgets", baratos e cheios de novidade. Bolas cheias de água que acendiam luzes coloridas ao serem arremessadas ao chão, relógios iluminados internamente por leds que iam mudando de cor vagarosamente, blocos de vidro com a figura do Cristo Redentor desenhada a laser no seu interior e até um curioso cofrinho de vidro. Punha-se lá dentro, através de uma ranhura na sua parte superior qualquer moeda. Quando a moeda entrava no cofrinho através da ranhura, ela simplesmente desaparecia. Lembro aqui que o cofrinho era de vidro. Via-se tudo lá dentro. E nada de moeda... Não sosseguei até que o vendedor, um boliviano desdentado e magrela, de longos cabelos lisos e todo coberto por tatuagens, concordasse em abrir para mim o cofrinho, revelando o segredo. Um engenhoso jogo de espelhos era o responsável pelo sumiço da moeda. Acho que ele abriu o cofrinho mais para recuperar as moedas, pois enquanto eu investigava a mágica, enchi o cofrinho com as moedas dele e não as minhas. Para não ser aquele chato que olha tudo, mexe em tudo e não compra nada, comprei para as minhas primas baladeiras, umas meias de seda transparente, cobertas de desenhos imitando tatuagens. Veste-se a meia na perna ou no braço (é só um cilindro) e pronto, instantaneamente a pessoa se transforma em um punk! Guardei as meias em um saquinho para depois as lavar em casa, pois o camelô não primava pela higiene. Parecia quase um mendigo, coitado.
Novamente tomo o rumo de casa, dessa vez decidido a não mais parar até entrar na garagem do prédio, mas não resisti a uma última pausa. Quis ver os barcos de pesca que trazem peixes para abastecer a pequena peixaria existente na praia, no Posto 6 de Copacabana. Era uma visão magnífica! Os barcos ali parados, o mar calmo atrás e o Forte de Copacabana todo iluminado ao fundo. Uma visão inesquecível...

Chego finalmente em casa. Cansado mas feliz por ter passado uma tarde tão agradável e por saber que tudo o que eu vi estará sempre ali, disponível para novas visitas. As coisas simples e baratas da vida são mesmo as mais compensadoras, mas aí me pergunto: é simples e barato ter o permanente acesso a essa magnífica orla do Rio de Janeiro? Carlos.

sexta-feira, 1 de julho de 2011

Vespas nas orquídeas. Como combatê-las?

Carlos Keller é quem vai responder a esta pergunta que tantos Orquidófilos gostariam de saber:

A vespa que ataca orquídeas coloca os seus ovos nas pontas das raízes, os quais logo virarão larvas, fazendo inchar as pontas das raízes. As larvas viverão dentro desses inchaços. A vespa se chama Calorileya nigra e o ataque dela não mata a planta. Já outra vespa, a Eurytoma orchidearum, essa coloca os ovos dentro dos pseudobulbos e as larvas que lá dentro nascerem, vão comendo os pseudobulbos por dentro, deixando eles ocos. Isso acaba por matar a planta. No primeiro caso, vc tem que cortar fora a parte afetada da raiz e queimar essas pontas. No segundo caso tem que fazer o mesmo com os pseudobulbos, assim as larvas não virarão novas vespas. Isso não resolve o problema, só minimiza. Para resolver vc tem que aplicar veneno. Essas soluções caseiras não resolvem nada. Nada de pajelança! Vc tem que atacar de duas maneiras. De tempos em tempos vc tem que aplicar no orquidário um inseticida piretróide, tipo SBP. Esse inseticida não faz mal às pessoas e mata as vespas que estão dentro do orquidário, voando por lá. Com isso, elas morrem antes de colocar os ovos. Um inseticida piretróide que eu recomendo é o Kaotrine, que se vende até em pet shops dos bons. Vc dissolve o Kaotrine em água e aplica no orquidário como se fosse uma nuvem. Não precisa ensopar as orquídeas com ele, é só por cima, igual ao SBP que sem aplica nas residências, só matando o que está no ar ou zanzando por sobre a planta. Para as larvas que já nasceram, vc tem que aplicar um inseticida sistêmico. Existem vários e vc deve procurar um que seja fácil para se comprar fracionado. Tem que ser sistêmico, senão não resolve. Nesse tipo de inseticida, o veneno entra dentro do sistema da planta e se mistura com a seiva da planta e quando as larvas roem a planta para se alimentar, elas morrem envenenadas, pois a seiva da planta está com veneno. Esse tipo de inseticida costuma durar na seiva da planta por até 3 meses. Só assim vc resolve o problema, pois novas vespas podem entrar voando dentro do seu orquidário e podem escapar de serem mortas pelo Kaotrine. A cada 3 meses vc repete o inseticida sistêmico e o bom seria vc rotacionar pelo menos 2 inseticidas com o princípio ativo diferente, para não criar resistência. Onde comprar esse tipo de inseticida? Com chacareiros ou orquidófilos da sua região, que podem fracionar e te vender um pouco sem a necessidade de vc ter que ser pessoa jurídica ou produtor rural. Espero ter respondido a sua pergunta. Carlos.

Carlos Keller

Rio de Janeiro, RJ

carlosgkeller@terra.com.br