terça-feira, 3 de novembro de 2009

Vamos falar de substratos.


Onde plantar uma orquídea? Esta pergunta sempre é feita por um orquidófilo ainda na fase inicial. No entanto, várias são as opções de plantio. O prof. René Rocha, em seu livro "ABC do Orquidófilo para uma, várias e muitas orquídeas", nos dá uma verdadeira aula.

"Substrato tem o significado biológico de "meio" ou "nutriente" que serve de base para o desenvolvimento de um organismo. Em ecologia, refere-se a sedimento, base, meio, ou ainda qualquer superfície que possa servir de suporte a organismos vivos.
Juntando-se essas definições, podemos dizer que é o material utilizado para fixar as orquídeas, suporte para o seu desenvolvimento.
Modernamente, em orquidicultura, um substrato não precisa, necessariamente, fornecer nutrientes. Tem acepção de: "O que serve de suporte a outra existência".
Até coisa serve, até vaso vazio. Já vi orquídea plantada e vegetando nos mais variados suportes. Já as vi penduradas no ar, por apenas umas poucas e finas raízes ligadas a um fino galho de árvore; nos mais inusitados suportes, como tijolos de barro, placas de cimento, pedaços de isopor, sabugo de milho e tantos mais. Também há muitos substratos (ou suportes) totalmente inertes já de uso bastante comum, como pedriscos, seixos rolados de rio, bolotas de argila expandida e sementes diversas, como caroços de pêssego, de açaí e coquinhos. Também se usam vasos cortados em pote de cascas de frutos, como do coco-da-bahia, da castanha-do-pará e da sapucaia.
É no substrato que haverá de se fixar, e para que qualquer orquídea se desenvolva bem, o essencial é que ela mantenha seu sitema radicular em perfeitas condições, já que é pelas raízes que a planta se fixará, mas, principalmente, se nutrirá. Ao escolher o substrato para o cultivo de nossas orquídeas, devemos levar em conta de que ele precisa, fundamental e necessariamente, possuir as propriedades:
- Permitir boa aeração e não ser agressivo às raízes;
- Ter capacidade de alguma retenção de umidade e boa drenagem;
- Sofrer decomposição lenta;
- Ter boa disponibilidade e preço baixo.
Meiracylim cultivado na peroba.
Em outras palavras: a) Reter a umidade durante algum tempo, sem ficar encharcado. b) Ser de fácil uso e de longa duração. c) Ter custo acessível e fácil de ser encontrado. d) Ter pH adequado, pois a eficácia da absorção do adubo depende dele. e) Não conter resíduos, como gorduras ou substâncias químicas, taninos ou resinas que queimem as raízes da orquídea.


Oncidium cebolleta fixado num toquinho e enraizado na coluna de cimento.


Os mais diversos materiais são usados e todos com algumas conveniências e incoveniências. No Brasil ainda podemos usar o xaxim desfibrado, embora com restrições para a extração e comercialização. A opção pelo substrato a ser usado vai depender, principalmente, da sua facilidade de obtenção na região, seu baixo preço, da necessidade de umidade de cada planta, do regime pluviométrico e do clima da região em que está o orquidário. 
Algumas plantas necessitam de maior umidade no substrato, enquanto que outras não. Excetuando-se as higrófilas (amigas da água), todas as outras orquídeas não suportam umidade estagnada no substrato. Algumas são originárias de locais mais chuvosos e úmidos e de várzeas, como a Cattleya violacea, a loddigesii e o Oncidium varicosum. Outras são de locais muito secos como o Oncidium jonesianum, do cerrado mineiro, onde passa até 9 meses sem chuva, e as Cattleya walkeriana e a nobilior, que são de regiões de clima com estação seca e prolongada seguido de período de chuvas abundantes.




Brassavola tuberculata fixada em placa de xaxim e enraizada na coluna de madeira.


Cada planta requer seu cuidado específico. Daí surge o primeiro problema a resolver, quanto à escolha do substrato e a opção pelo plantio em placas de xaxim, tocos de árvores, cascas, pedras. Em vasos de barro ou de plástico com xaxim desfibrado, com pó de xaxim, com terra vegetal... E assim por diante. As escolhas dependerão, é claro, de que tipo é a planta, se epífita ou terrestre. se de lugares úmidos ou secos. Além disso tudo, existem plantas muito específicas, que teimam em não se adaptar bem a vasos. Assim as Cattleya walkeriana, a nobilior, a aclandiae e a violacea e outras que melhor se desenvolvem fora de vasos, como a maioria dos Oncidium.





                                                                                                                                      
                                                                                                                        Orquídea cultivada em nó de pinho.

Existem no mercado substratos nutrientes e os não nutrientes, os chamados inertes. O que Prof. René nos diz sobre eles:
No primeiro caso, aqueles que fornecem nutrientes à planta. Mesmo assim é necessário complementar com adubos para se obter florações mais exuberantes e regulares. Lembre-se: orquídeas crescem até em substratos inertes, que nada lhes fornecem de nutrientes. Assim são os troncos serrados e caixetas de madeira ripada e os vasos contendo apenas pedra britada ou seixos rolados de rio. E o sucesso vai depender do que você faz depois de plantar; vem com o trato cultural, com a higiene, com as regas e adubações equilibradas, a boa iluminação e ventilação, sempre aliados ao substrato adequado.
Alguns deles exigem mais regas ou mais adubação; outros não retém quase nada de nutriente ou de umidade. Cada uma dessas limitações deverá ser contornada ou utilizada a favor de determinada planta. As escolhas mais adequadas dependerão de você, e deverão ser feitas em função da planta a ser cultivada. Para descomplicar, adianto que para a maioria das orquídeas (claro que existem casos particulares), optamos por usar  um mix de vários substratos.

Agora vamos procurar falar um pouco de cada um dos substratos.
São substratos nutrientes:
O xaxim - extraído do tronco da samambaiaias arborestes, sendo o mais usado no Brasil o da Discksonia solowii. Fornece massa fibrosa de excelente qualidade e tem durabilidade de dois a três anos.
As cascas de certas madeiras - (em especial a de Pinus elliottii var. elliottii) que, após quebradas em diversas granulometrias, são tratadas, para retirar o tanino e fornece nutrientes ao se decompor. Também são usadas as de corticeiras, jacarezinhos ou de outras árvores.
O esfagno, também conhecido por musgo ou esfagno do Chile, é o nome de alguns musgos que vegetam em meios muito úmidos e ácidos. É especialmente indicado para plantas que gostam de umidade, como Miltonia, Odontonia, Sophronitis  e na composição de substratos para Paphiopedilum e para seedllings.
Troncos e galhos de certas leguminosas de madeira branco-amarelada e muito mole, leve e porosa como as Erytrinas, conforme vão se decompondo, fornecem nutrientes às plantas neles hospedadas.
Sementes de açaí e semente de pêssego: Fervidas antes do uso para não brotarem, deterioram-se rapidamente, fornecendo nutrientes nesse processo. Trocar a cada ano. Incluo neste rol de substrato o caroço da cajá, seriguela e o coco babão.








Catasetum cultivado em vaso transparente e argila expandida como substrato.


Coxim - produzido com o tecido esponjoso (parênquima) que fica entre as fibras da casca do coco e industrialmente tratada.
Casca de coco em pedaços - existem relatos de bons resultados do seu uso como vaso, tanto da casca dura e limpa (quenga) quanto dela ainda envolvida pelas fibras da casca, cortada e furando drenos na parte inferior.
Fibra de bucha do coco - Produtos da fibra do coco-da-baia ou de pedaços picados da casca. No Nordeste é utilizada há anos. É necessário um certo cuidado para retirar o tanino, colocando de molho, trocando a água por 7 a 10 dias seguidos, até não sair mais a tinta. Feito isso, põe no sol para secar e ensacar.
Dendrobium Lindley cultivado em fibra de coco.
Fibra de piaçava e fibra de coco - Quem já usou gostou enquanto eram novas, mas com menos e 1 ano surgiram problemas nas raízes. A fibra de coco prensada com pouco tempo de uso se esfacelam.
Casca de arroz carbonizada - Usada pura ou em mistura. De uso tradicional pelos japoneses em outras plantas, agora também por alguns cultivadores profissionais de orquídeas. Segundo eles, não permite o desenvolvimento de fungos, evita o trânsito de formigas e retém muito bem os nutrientes, principalmente quando é utilizado o Bokashi, adubo orgânico pré-fermentado. Substrato rico em silicio, benéfico para orquídeas.
Casca de amendoim ou de macadâmia - tem decomposição muito rápida, liberando alguns nutrientes, porém formando massa pastosa e exigindo replantios.
Maravalhas de madeiras - Já presenciamos plantas de bom vigor e enraizamento neste tipo de substrato, porém não temos nenhuma experiência com ele e pensamos que deva ser usado em misturas, em locais protegidos de chuva e após tratados contra eventuais resinas ou tanino.
São substratos inertes:
  • arlila espandida
  • brita de construção
  • cascalhinho
  • seixo rolado de rio
  • isopor picado em pedaços
  • carvão vegetal
  • cacos de telhas ou de tijolos
  • vasos de barro vazios.
Estes são os substratos mais utilizados pelos Orquidófilos. Particularmente utilizo uma mistura de casca de pinus, carvão vegetal ou brita, fibra de coco e casca de arroz carbonizada para maioria das orquídeas, salvo as microorquídeas, que gostam um pouco mais de umidade, uso esfagno em maior proporção e aquelas que gostam de substrato seco, como as Cattleya nobilior e walkeriana, uso o toquinho de sabiá, madeira abundante no Nordeste, substitui a peroba.
No 3º FestOrquídea que a Associação Cearense de Orquidófilos realizará no Centro Dragão do Mar de Arte e Cultura, dias 13, 14 e 15 de novembro, mostrará diversos substratos para orquídeas e muitos poderão ser adquiridos nos stand´s de vendas.
Vera Coelho é Orquidófila e Vice Presidente da ACEO.

4 comentários:

katia disse...

Vera, adorei o artigo! Na época que havia facilidade em conseguir xaxim era tudo mais simples, as orquideas normalmente iam bem.
Muitas vezes me descuidava na aplicação do adubo e ainda assim elas desenvolviam bem e floresciam.
Confesso que ainda não consegui me adaptar com a casca de pinus, por mais cuidado que tenha as orquideas não se fixam bem. Utilizo vários palitos e a aparência final não é muito boa (rs!)
Abraços, Katia

Unknown disse...

Gostaria de saber onde posso comprar a casca da macadâmia, para utilizar como substrato para orquídias. Moro em Divinópolis MG. Abraços, Adriana.

Anônimo disse...

nese caso el uso uma reseita muto boa el uso coco de bode seco seragen grosa e carvao vegetal que me ensinol foi uma dona de un orquidaro aqui no pará preto da capital e uma mistu muito boua ( beijo)

Devanis disse...

Adorei a materia! Vera eu tenho um pouco de walkeriana e nobilior que estão afixada em casca de perobas, porem apoidas em cachepô. Eu tenho uma dúvida, que consite: como a peroba não retem agua, tem que regar mais vezes, também não retem adubo. Pensei! O que fazer para suprir essa deficiência? Achei que usando uma quantidae de sphagnum nas bordas superiores seria e inferior pudesse ser a solução, só que gostaria de uma opinião de alguem com mais esperiência,como venho sempre visitando o seu site, ousei-me pedir-lhe essa opinião. Ficarei-lhe muito grato, se possível puder ceder-me essa opinião.