sábado, 21 de março de 2009

Dr. Pedro Ivo e a Cattleya eldorado Linden













19 de março, dia de São José, padroeiro do estado do Ceará. Um dia para se comemorar as chuvas que abençoam nossas terras. Foi exatamente neste dia que o Orquidário Terra da Luz recebeu a ilustre visita do Orquidófilo e Orquidólogo Dr. Pedro Ivo Soares Braga, pessoa com raras qualidades, extremamente culto e simples. Conversamos sobre seus trabalhos e projetos enquanto entre um gole e outro de cajuina, bebida típica do Nordeste. A entrevista que fiz com ele será publicada no site: http://www.orquidofilos.com/ da Associação Cearense de Orquidófilos.


Possui graduação em História Natural pela Universidade Santa Úrsula (1973), Mestrado em Ciências Biológicas (Botânica) pelo Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (1976) e Doutorado em Ciências Biológicas (Botânica) pelo Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (1982). Atualmente é professor Titular - Universidade Federal do Amazonas. Tem experiência na área de Botânica, com ênfase em Taxonomia - especialista na Família Orchidaceae, Biologia Floral, Fitogeografia - Fitossociologia, Conservação Ambiental, Estudos de Impactos Ambientais, Recuperação de áreas degradadas.


Publicarei aqui algumas informações sobre a Cattleya eldorado Linden a Rainha das Orquídeas do Amazonas, com certeza a mais bela e radiante.

Nomenclatura do gênero:

C. eldorado Linden, Coll. Bot. : t. 33. 1821.
Erva epifítica a saxícola ou pseudoterrestre. Pseudobulbos oblongos, carnosos. uni ou bifoliados, folhas dispostas no ápice dos pseudobulbos. Inflorescência terminal, simples, ereta, pauciflora. Sépalas livres, subiguais. Pétalas geralmente maiores do que as sépalas, raramente iguais. Labelo geralmente membranáceo, séssil, livre ou adnato a base da coluna, trilobado, lobos laterais geralmente envolvendo a coluna. Coluna grande. Políneas quatro, ceróides, caudículo evidente.
Nomenclatura de Cattleya eldorado Linden
Cattleya eldorado Linden, Fl. des Serres, 28 (13): tab.1826. 1869.
Sinônimos:
Cattleya trichopiliochila Barb. Rodr. Gen. et Sp. Orch. Nov. 1: 70, 1877
Cattleya wallisii Reichb. f.,Gard. Chron. 17: 557. 1882.
BRAEM (1986), sinonimizou a Cattleya eldorado Linden e suas variedades a Cattleya trichopiliochila Barb. Rodr., entretanto considero, a primeira espécie, com suas respectivas variedades válidas; LACERDA (1991), propôs uma classificação das variedades da Cattleya eldorado baseado na coloração dessas. Em 2001, Van Den Berg sinonimizou a Cattleya eldorado Linden a C. wallisii (Linden) Linden ex Rchb.f., Gard. Chron. 17: 557. 1882. Entretanto como já mencionei anteriormente em outras entrevistas e trabalhos continuo considerando a primeira espécie como válida, pois de acordo com o Código Internacional de Nomenclatura (ICBN, Greuter et. al., 2000), essa foi publicada validamente.

No Brasil, esta variedade está citada para os Estados do AM e PA, no entanto, só examinei material de herbário ou encontrei-a em condições naturais, no Estado do Amazonas na Província Fitogeográfica IVb. Na Amazônia brasileira geralmente é encontrada nas Campinas e raramente nas Florestas de Terra firme. Como limite de distribuição, encontrei-a em Barcelos e na estrada Manaus Porto-Velho no rio Igapó Açú.

HABITAT:
Epifítica principalmente em Aldina heterophylla Spr. Ex Benth. (Fabaceae =Leguminosae Papilionoideae), uma árvore forófita (que abriga muitas epífitas), na Campina aberta, sombreada e na Campina alta (=Campinarana), umbrófila a heliófila.

FENOLOGIA:
A planta é perene e sempre verde. Nos meses de setembro e outubro ocorre o crescimento vegetativo. A seguir dá-se desenvolvimento da haste floral para nos meses de dezembro a fevereiro florescer. Às vezes, podemos encontrar até em abril plantas floridas, mas isso é muito raro. A frutificação começa em dezembro e vai até começo de outubro. Em julho começa a deiscência dos primeiros frutos e os mais retardados terminam a frutificação em outubro. As outras variedades que ocorrem no Igapó ou próximo a este florescem em agosto-outubro. Geralmente são encontradas no forófito denominado popularmente de "macucú", Aldina heterophylla Spr. Ex Benth. (Fabaceae =Leguminosae Papilionoideae).
As plantas de C. eldorado que ocorrem no igapó geralmente são robustas e possuem flores maiores daquelas que ocorrem na vegetação de Campina na Terra Firme. Pode ser que as mesmas constituam duas subespécies distintas.

DESCRIÇÃO DAS VARIEDADES:
Considero 9 variedades como válidas e uma de posição incerta, aqui não ilustrada, como se segue:





Cattleya eldorado Linden - tipo







Cattleya eldorado var. treyeranae Linden - CONCOLOR.










Cattleya eldorado var. splendens Linden - ESPLÊNDIDA.







Cattleya eldorado var. ornata Reichb. f. - ORLADA.








Cattleya eldorado var. crocata Rand. - AQUINADA.




Cattleya eldorado var. lindeni Linden - AQUINADA.


Cattleya eldorado var. oweni Hort. - SEMIALBA.









Cattleya eldorado var. alba Rand. - ALBA.








Cattleya eldorado var. virginalis Linden et André - ALBA








Considerações Finais
A espécie em questão é muito variável e pode-se notar uma diferença marcante nos indivíduos que ocorrem no Igapó ou Campinas próximas das margens dos rios, em relação aqueles que ocorrem em Campinas da Terra-Firme. Os primeiros possuem plantas mais robustas e flores maiores do que as dos últimos.
É importante citar que na época do descobrimento da espécie e suas variedades a Terra-Firme ainda não tinha sido desbravada por estradas, o que a tornava de difícil acesso.
Na Lindenia, inclusive é citado, que as primeiras plantas que floriram provieram das margens do rio Negro e na Martii Flora Brasiliensis, do rio Negro e Urubu. O período da floração dessas plantas também são diferentes No Igapó florescem de agosto a outubro e na Campina florescem geralmente de dezembro a fevereiro. Atualmente nas proximidades de Manaus as Campinas foram destruídas e as Campinas que visitei estavam em Terra-Firme a cerca de 60 a 90 km do perímetro da cidade. Pode ser este o mistério do porque daquelas variedades citadas na referida obra só terem sido reencontradas recentemente. Dito isso, penso que temos dois ecótipos que estão em processo de diferenciação ou mesmo podendo ser considerados como vicariantes de duas subespécies, entretanto, ambas populações possuem o mesmo perfume forte característico. Em relação ao formato das flores também é muito variável e a maioria das flores não mostram boa armação. Quanto a coloração variam do rosa-claro ao rosa-escuro ou de flores brancas. Todas as Cattleya eldorado possuem o labelo com a fauce maculada de laranja. De modo geral, é possível encontrar formas intermediárias entre as variedades o que sugere a hibridação dessas em condições naturais. Como sabemos, a flora das Campinas Amazônicas foi em grande parte derivada do Escudo das Guianas. Por outro lado, com a retração da Floresta de Terra-Firme no Pleistoceno, a ligação entre os tipos não florestais foi ampliada. No Quaternário a Floresta tornou-se a expandir propiciando extensa diferenciação e isolamento relativo entre as tipologias vegetacionais, pois o isolamento não é total como em ilhas oceânicas. Em Roraima, na fronteira do Brasil com a Venezuela, na serra de Pacaraima, a cerca de 900 km de Manaus entre cerca de 800-1200 m. s. m. ocorrem duas outras espécies do mesmo grupo da C. eldorado, o grupo das Cattleya labiata Lindley, com os pseudobulbos unifoliados. A primeira, Cattleya jenmanii Rolfe, apresenta coloração roxa com o centro do labelo maculado de amarelo-alaranjado a semelhança da C. eldorado. A segunda, Cattleya lawrenceana Rchb. f. têm flores roxas e as pétalas maculadas no ápice, como algumas das variedades da C. eldorado. que tratamos nesse trabalho. Como as orquídeas possuem dispersão de sementes a longa distância pelo vento pode-se supor uma possível derivação e ou hibridação com aquelas espécies. De qualquer forma estas observações necessitam de maiores confirmações.
Quero dizer do prazer de recebê-lo em nossa modesta propriedade, onde o Dr. Pedro Ivo teceu algumas considerações sobre nosso cultivo e sobre o orquidário, deu algumas dicas valiosas, as quais pretendo executá-las. A manhã foi curta para tantos ensinamentos, no entanto o pouco que aprendi foi bem absorvido.

6 comentários:

Anônimo disse...

PARABENS PELA QUALIDADE DO ARTIGO, SEM ESQUECER DE DESTACAR A NOTAVEL QUALIFICAÇÃO DO Dr.PEDRO IVO. 'COMO DIZIA MEU FALECIDO PAI (CEARENSE DE SOBRAL); O EXEMPLO É A MELHOR EDUCAÇÃO'. ESPERO QUE MUITOS VEJAM E APRENDAM POR ANALOGIA COMO É BONITO TRANSFERIR CONHECIMENTO DE UMA FORMA SIMPLES E EFICAZ.
LUIZ O N CAVALCANTE
FOZ DO IGUAÇU - PR

Adenium - Rosa do Deserto disse...

Luiz meu amigo,
Agradeço pelo seu comentário tão especial. Não sabia que seu pai era cearense de Sobral. Então você é metade meu conterrâneo.
A melhor maneira de aprender e transmitir conhecimentos é primeiramente ouvir, em segundo lugar, conversar. É assim que procuro fazer, mesmo com os grandes mestres.
Abraços,
Vera Coelho

Anônimo disse...
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Anônimo disse...

Cara Vera Coelho,
Muito obrigado por toda atenção que me foi dispensada quando da visita ao
Orquidário Terra da LUZ. Eu e minha família passamos horas, das mais
agradáveis.
Em relação às palavras elogiosas que você teceu sobre as minhas
qualidades, agradeço e lhe retribuo, na certeza, que essas palavras emanam
bondade e sabedoria
Quanto aos dois Bloggers de sua autoria, acheios extremamente úteis e
organizados. Sugiro que no futuro você publique um livro que englobe as
informações constantes dos mesmos,
Sem mais para o momento, aceite meus cumprimentos e respeitosa admiração.
Pedro Ivo Soares Braga
Manaus, 26 de março de 2009.

Unknown disse...

Dr. Pedro Ivo,

Estive pesquisando alguma coisa a respeito do nome válido da Cattleya eldorado e encontrei que a descrição feita por Linden em 1882 era na realidade uma correção ao nome dado a essa espécie em 1865 de Laelia wallisii por ele mesmo. Nesse caso, o próprio Código de Nomenclatura Botânica estabelece que o epiteto específico permanece. Assim, mesmo tendo sido classificada em 1869 como Cattleya eldorado, a descrição de 1882 como Cattleya wallisii tem preferência pois o epíteto específico foi estabelecido em 1865.
Creio eu que foi essa a conclusão do Dr.Cassio, aceita por Kew, que onsidera como Cattleya wallisii o nome válido.

Dr. Pedro, aproveitando o espaço, muito obrigado por ter me acolhido e ajudado, quando estava iniciando na orquidofilia (em Sergipe, nos idos anos de 1984, ou próximo disso). Na época o Sr me enviou uma coleção dos Boletins publicados em Manaus.

abraços
Erwin
eborquideas@ig.com.br

marnegro disse...

oi bom dia amigos, gostaria de saber se alguem tem plantas de cattleya eldorado em estadio de floracao ou maturação de sementes, estou precisando de sementes para um trabalho de conclusao de curso. meu email é :heltomar@gmail.com